chan, a good woman
eu tenho TANTO pra falar, mas com palavras não sei mesmo dizer. foi mal, chan. mas o amor é brega. e a paixão deixa a gente assim, sem conseguir juntar as palavras pra contar uma história decentemente.
e aqui chegamos a cat power. chan meu amor, como diz a tag. são infinitas as músicas que me emocionam, tantos os cantores e as bandas que me fazem pensar a vida por suas letras e melodias. e poucos aqueles que, vistos ao vivo, me arrepiam e enchem meus olhos de lágrimas. e adivinhem quem faz isso e faz show amanhã? ela, a chan. a gata poder.
chan não quer que você leia “a good woman”, biografia dela escrita por elizabeth goodman. mas eu li, chan, desculpa. se você quiser me contar realmente tudo que aconteceu na sua vida, manda um e-mail que a gente marca.
mas eu li. devorei. em dois dias. e fiquei sabendo de tanta coisa. que ela era uma garotinha triste, que mudava de cidade o tempo todo. que não agüentava a mãe esquizofrênica e alcoólatra (no entanto, deu o nome dela a seu primeiro disco, “myra lee”). que era apaixonada pelo pai. mesmo pai, músico frustrado, que dizia pra ela que música não era brincadeira e que, portanto, ela não deveria brincar em seu piano.
o livro tem o grande defeito de não ouvir chan. todas as aspas são acompanhadas de um “she has said”, que pode ter sido descontextualizado. mas o mérito da biografia é fazer uma colcha de retalhos com várias entrevistas que a própria chan deu e, também, com conversas com amigos delas, como o frontman do sonic youth, thurston moore. dá para saber que ela passou três anos vendendo pizza, que tocava para as plantas antes de ter coragem de mostrar uma composição pro roomate, que pedia desculpas o tempo todo por tudo o que fazia e o que deixava de fazer, que é apaixonada por uma praia e adora manter o bronze (hoje, de preferência, em um biquíni chanel).
antes de ser a mulher madura que enche o palco com covers de aretha franklin e frank sinatra, chan era conhecida por sua bad behavior. tocava de costas para o público, repetia os mesmos acordes ad infinitum, partia uma canção no meio, causando na platéia um misto de curiosidade e indignação.
sua performance estranha no palco era resultado da timidez. e do fato de ela não entender direito como milhares de pessoas se identificavam com as letras de suas músicas, experiências tão íntimas, tão unicamente suas. “i didn’t understand this whole process of being interviewed, having my photo taken, just for art, just for a song. i thought, the song is there, i gave you the song. it’s on a cd. you can have it. thank you for giving me the present of being able to have a cd. it’s an honor”, já disse.
também já disse “everyone’s more responsible for my music than i am”. porque, na cabeça dela, ela nunca estaria à altura de billie holiday, de bob dylan _uma de suas maiores referências, um de seus amores, para quem ela sussura “song to bobby”.
e nesse quase descuido, nessa imprevisibilidade, ela foi fazendo um “what would the community think” aqui, um “moon pix” ali. foi deixando de ser a querida dos hipsters do lower east side para ser uma cantora que vai a cidade do méxico, a paris, a londres para falar de seus amores e seus demônios, dos seus medos e esperanças. e, como conseqüência, fazer com que milhões de rostos anônimos vejam nela tudo aquilo que sempre pensaram, mas que nem sempre conseguiram expressar.
corta para, puft!, toda a pressão que isso desencadeia. o peso de ser uma artista de verdade, de ter fãs, de dar entrevistas e de viajar sem parar. tudo começa a bater de frente com seu maior desejo, o de settle down _ter uma casa, uma família, filhos; freudianamente, tentar ir atrás de tudo que não teve. com bill callahan, o smog man, ela tentou _e conseguiu até vê-lo no papel de artista em turnê. nas mãos de um modelo mais novo, daniel, que aparece no clipe de “he war”, viajou o mundo e viveu a felicidade _por mais que seus amigos não entendessem muito bem a conexão.
um dia, o que era doce se acabou. e chan se viu sozinha, com o coração partido, que tratou remendar com doses heleninha roitmann de alcóol. era o tempo do intervalo entre o “you are free” e “the greatest”. ela bebia, bebia, bebia. fazia show e bebia. a ponto de não conseguir fechar a calça de tanta dor no estômago_e entrar para a história da fotografia ao deixar richard avedon fotografá-la com os pêlos pubianos à mostra, para a capa da “new yorker”.
depois daí, o surto. o medo de virar esquizofênica como a mãe e a irmã. a solidão. chan não agüentou. depois de quase uma semana trancada em um quarto escuro, acompanhada de bebidas e cigarros, foi socorrida por uma amiga, que a internou. a rehab foi involuntária, mas bem-vinda. quando saiu de lá, foi curtir o sol de miami e pensar na turnê que tinha pra fazer. depois, no próximo disco.
e veio “jukebox”, acompanhado da consagração, da despedida inevitável do indie e do abraço ao mainstream, com direito a virar musa de karl lagerfeld e tocar com sua banda, a dirty delta blues, em desfiles da chanel, participar do filme “my blueberry nights”, de wong kar-wai, encontrar seu muso dylan, colaborar com yoko ono, fazer uma releitura de “space oddity”, de bowie, brincar de ser artista com doug aitken e blablabla.
depois disso tudo, o que virá, chan? aguardo ansiosamente por algumas pistas no show de logo mais =)
a foto é de geraldine
Filed under: amor, bliss, chanmeuamor, clap, divas, fotografia, literatura, música | 33 Comments
Cat Power é o Kurt Cobain desta geração.
por que riscou tudo
assim não dá pra ler fica difícil
é teste oftalmológico
abs
Adorei o texto.
não vejo a hora.
bj.
eee, brigada!
Quando lido com carinho, até o que não é para ser lido fica melhor, não é?
ôoo =)
=*
Linda.
=)
Pois é, o texto mais comprido da história deste blog e ela risca todo 🙂
hahaha
=D
Phoda o texto. Você é ainda melhor escrevendo do que selecionando imagens.
pô, brigada. mesmo mesmo
=)
não vejo a hora…
Ai adorei o texto. Amo a Cat, mas sei muito pouco da vida dela, que bom poder ler por aqui.
Queria muito ir no show (sou do Rio), mas não vou pra comemorar o aniversário de uma amiga…em um bar, acho que a Cat ia apoiar. 😉
já que é a primeira vez que comento, aproveito pra dizer que amo o blog e passo aqui todo dia para me inspirar
=**
brigada, taís! volta sempre, viu?
caralho, lindo-lindo.
=D
=, amo a chan e continuo me esforçando pra ser uma good woman.
eu tb!
oxe, dani. tá tão bonito! deixa de ser besta, desrisca! :**
nhoin! =*
O show foi lindo, eu tava lá na primeira fila, pertinho dela, inesquecível! Me deu a mão, entregou o set list pra mim… Uma fofa, a Chan.
nossa, eu participei disso, quase morro! haha
amiga você é das pessoas mais sensíveis que eu já conheci. e a mais sensível com que eu convivo. eu gosto mais de cat power agora por causa desse seu texto, sem precisar ouvir uma música a mais. e citar chanel e karl lagerfeld re-pe-ti-das vezes num texto faz de você uma fashionista (avisa pro pessoal da folha, rá). te adoro, beijoca no coração.
chorei, fernanda resende! =~
=****
Poxa…todo mundo disse mas
Liiiindo!!!
Sem dúvida, você é mesmo ainda melhor escrevendo.
Amei!
Sem exageros, mas Cat Power é mais do que foda…
Bjsss…
ôo, brigada! =*
Hola Daniarrais!! No hablo portugués, me voy a traducir el texto de chan, gracias por todas las cosas que compartís a diario!!!!!!!!!!!!
LOVE LOVE LOVE
Laura
Olá, sempre visito seu bolg, acho a seleção das imagens de um bom gosto e sensibilidade absurdos… daí lendo esse post sobre a cat power, eu q gostava de uma música q ela canta mas não sabia q era ela, fui escutar as outras e agora to mega viciada!!! to aqui pesquisando os CDs, DVDs e tudo o mais q existir sobre ela e minha revolta por não morar no eixo Rio-Sampa triplicou, já que qse nunca posso ir aos shows incríveis q só acontecem por aí!!
ufa.. q jornal pra um primeiro cometário…rs
enfim, parabéns, vc parecer ser uma pessoa muito especial! 🙂
Lindo!!! Adorei mesmo o texto, dani! Vc tirou muitas fotos? Fez algum vídeo! Eu quero ver tudo. O livro tem tradução, ou vc leu em inglês? Quero muito esse livro!
=*
uau, ótimo texto! adorei!
em pensar que eu estive cara a cara com ela e só consegui dizer duas palavras ridiculas… enfim…
beijos!